sexta-feira, 5 de maio de 2017

MESTRE JUVENAL ENGRAXATE - TEXTO: BOA ALMA


Juvenal Hermenegildo da Cruz, conhecido no mundo da capoeira como "Juvenal engraxate", foi um dos nomes mais falados da capoeira baiana nos anos 30 e 40 do século XX, defensor nato da Capoeira Angola, o mesmo fazia as suas rodas de capoeira na rampa do cais dourado e era freqüentador nato de um barracão onde aconteciam rodas de capoeira lá no Chame Chame ao lado de Osvaldo sapateiro(aluno de Valdemar), e de Samuel Querido de Deus que muitos diziam ser o seu mestre, apesar de algumas fontes atribuir a sua linhagem ao mestre Valdemar da Paixão.
Muito citado pelo Mestre Noronha em seus manuscritos, o mesmo pode ser o famoso Juvenal Nascimento que virou notícia nos principais jornais baianos após subir no ringue nos idos de 1936, suspeita se também que seja o mesmo Juvenal sapateiro que frequentador dá capoeiragem no período correspondente. Estivador, como a maioria dos antigos capoeiristas, aproveitava as horas de descanso, após as refeições, na beira do cais para praticar, e ensinar a nobre arte dá capoeira a aqueles que quisessem aprender. Mestre Juvenal nos anos 40 gravou um disco de capoeira cantado em iorubá, caboclo e português, quem quiser ouvir essa relíquia basta entrar no YouTube e procurar pelo Mestre Juvenal engraxate.

No trecho a seguir o Mestre Juvenal também é citado por Jorge Amado durante uma crônica dedicada a Samuel querido de Deus no Romance Bahia de todos os santos em 1944;
"Já começaram os fios de cabelo branco na carapinha de Samuel Querido de Deus. Sua cor é indefinida. Mulato, com certeza. Mas mulato claro ou mulato escuro, bronzeado pelo sangue indígena ou com traços de italiano no rosto anguloso? Quem sabe? Os ventos do mar nas pescarias deram ao rosto do Querido de Deus essa cor que não é igual a nenhuma cor conhecida, nova para todos os pintores. Ele parte com seu barco para os mares do sul do estado onde é farto o peixe.
Quantos anos terá? É impossível saber nesse cais da Bahia, pois de há muitos anos que o saveiro de Samuel atravessa o quebra-mar para voltar, dias depois, com peixe para a banca do mercado Modelo. Mas o velhos canoeiros poderão informar que mais de sessenta invernos já se passaram desde que Samuel nasceu. Pois sua cabeça já não tem fios brancos na carapinha que parece eternamente molhada de água do mar? Mais de sessenta anos. Com certeza. Porém ainda assim, não há melhor jogador de capoeira, pelas festas de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na primeira semana de dezembro, que o Querido de Deus. Que venha Juvenal, jovem de vinte anos, que venha o mais ágil, o mais técnico, que venha qualquer um, e Samuel, o Querido de Deus, mostra que ainda é o rei da capoeira da Bahia de Todos os Santos. Os demais são seus discípulos e ainda olham espantados quando ele se atira no rabo-de-arraia, porque elegância assim nunca se viu..."
Créditos;
Amado, Jorge
Bahia de todos os Santos
1944;
Nessa crônica de Jorge Amado o pouco que ele fala sobre o mestre Juvenal já é suficiente para basearmos a sua possível idade, pois o autor o cita como um jovem de 20 anos, levando em questão que a crônica foi feita no ano de 1944, podemos então levantar a hipótese que o mesmo teria nascido em 1920; porém por falta de provas concretas ficaremos apenas nas suposições mesmo.
No ano de 1948, o repórter Cláudio Tavares, da revista "O Cruzeiro", fez uma longa entrevista com o mestre e os seus alunos, onde o título do texto era "Zum, Zum, Zum Capoeira mata um". Na ocasião em questão o mestre disse a seguinte frase " a minha cachaça é a capoeira", fazendo alusão a outros estivadores que aproveitavam os seus respectivos horários de almoço para bebedeiras onde aa confusões eram inevitáveis. Segundo Tavares, não era um malandro, nem um profissional exclusivo de capoeira, que pudesse ser contratado para qualquer "servicinho" a mando dos grandões, como outros capoeiristas da época, Juvenal era um trabalhador, um estivador que passava as horas do dia e até da noite no "pesado".
A revista o cruzeiro foi fundada no ano de 1928 e durante as primeiras décadas do séc. XX, a mesma é tida como o maior veículo de informações jornalísticas do período em questão. No ano de 1946 o time de jornalistas da revista foi reforçado com a contratação do fotógrafo francês Pierre Verger. Esse por sinal, é o pioneiro entre os fotógrafos que retratou a cultura afro brasileira, as suas fotografias são registros de muita valia para os atuais profissionais da área das pesquisas, quando se trata das décadas de 30 até 60 do séc. XX. Inclusive foi o próprio, o fotógrafo dá entrevista em questão.

Texto
Antônio Luiz dos Santos Campos (boa alma)
Créditos ver: https://www.facebook.com/lula.campos.161

Nenhum comentário:

Postar um comentário