quinta-feira, 21 de julho de 2016

FALECIMENTO DO MESTRE ANANIAS (1924 - 2016)


A roda da República certamente não será a mesma a partir de agora, infelizmente essa quinta feira começa com o berimbau soluçando de tristeza pois perdemos o grande mestre Ananias. Seu Ananias estava internado desde o dia 09/07 de 2016 e Deus com grandeza e sabedoria decidiu que era chegada do mestre descansar no auge dos seus 92 anos de idade.
O mestre Ananias Ferreira nasceu em 1924 na cidade de São Félix no recôncavo baiano, por coincidência nasceu no mesmo ano o mestre caiçara, e no ano seguinte nasceu o mestre Traíra Ambos na cidade de cachoeira que antes da divisão pertencia a São Félix, ainda no ano seguinte na capital baiana nasceu o mestre canjiquinha que anos mais tarde tornou-se uma das figuras mais importantes na vida do grande mestre Ananias.
Mestre Ananias cresceu nesse ambiente onde as manifestações afro-brasileira fervem, alí ele conheceu o samba de roda, o candomblé, e a capoeira que ele honrou até o último suspiro de vida. A sua infância na capoeira do mestre Juvêncio, no samba do mestre Inácio do cavaquinho, na roda da tenda do seu Mané da viola, despertou no menino o enorme desejo de passar para frente a tradição do seu povo. A sofrida e dura vida de canavieiro, e o dia a dia nas lavouras de fumo lhe fizeram buscar novos ares e o jovem Ananias Ferreira assim como a asa branca fugindo da seca, bateu em retirada para a capital baiana.
A princípio morou no bairro do Engenho Velho de brotas(onde bimba fez História), depois se mudou para o bairro do Curuzu, porém quis destino que o rapaz tivesse um terceiro endereço, foi morar na liberdade onde conheceu o grande mestre Valdemar. E foi ali na liberdade, no barracão do corta braço que esse rapaz começou fazer História na bateria mais afamada da História da capoeira. Muitos eram os seus companheiros, Nagé, Bugalho, Fumo Fino, Traíra, Dorival (irmão de Valdemar), Juvenal, Zacarias, Bráulio, Barbosa e muitos outros sem contar os companheiros de outras rodas que a vida lhe proporcionou.
Conheceu e conviveu com os grandes nomes da capoeira baiana, Caiçara, Pastinha, Bimba e dentre outros o mestre Canjiquinha que muito lhe ensinou e ajudou, e foi das mãos do mesmo que seu Ananias recebeu o diploma de mestre. Em 1953 através dos produtores Wilson e Sérgio Maia o mestre Ananias desembarcou na terra da garoa e o que era para ser algumas representações teatrais transformou-se na instalação do mestre na Capital Paulista onde se tornou um dos maiores, senão o maior percursor da capoeira por aqui. Esse período da História corresponde ao início da imigração nordestina para o sudeste do Brasil.
No fim dos anos 50 até meados dos anos 80 uma grande leva de capoeiristas baianos desembarcaram em São Paulo, esses periodos corresponde a transição da capoeira baiana para a maior capital da América latina, esses capoeiristas são os chamados mestres pioneiros, entre os muitos que vieram podemos citar; Mestre Suassuna, mestre Paulo limão, mestre Zé de Freitas, mestre Damião, mestre Brasília, mestre Bigo, mestre Natanael, mestre Joel e muitos outros mestres dentre eles o grande mestre Ananias um dos primeiros a chegar aqui.
Mestre Ananias participou de muitas peças teatrais na divulgação e valorização da cultura afro. Junto a Plínio Marcos esteve presente nas peças Balbina de Iansã e Jesus Homem. Dentre as maiores contribuições do mestre Ananias está a Roda da República, a mais famosa roda de capoeira do estado de São Paulo, fundada pelo mesmo junto aos seus conterrâneos mais de 50 anos atrás e que resiste até os dias atuais através da liderança do mestre.
A roda na casa do mestre Ananias é mais que um encontro de capoeirista em busca do saber é um ponto turístico onde o dono da festa era o patrimônio vivo da capoeira no estado.
Firmeza nas palavras, personalidade forte, liderança nata, conhecedor, Ogã por mérito, sábio, lutador, guerreiro que nunca abaixou a cabeça, uma personalidade digna da realeza africana, assim era o nosso grande Mestre Ananias, o patrimônio da História da capoeira de São Paulo.
Muitos vão ler esse texto e dizer eu estive com ele, eu cantei, eu joguei na sua roda; porém poucos vão dizer eu me preocupei em conversar com o mestre e saber um pouco sobre a sua vida, como era o cenário da capoeira quando desembarcou aqui. Eu posso dizer que sou um desses poucos.
Descanse em paz mestre Ananias a capoeira agradece a sua breve passagem aqui na terra, que Deus o tenha em sua glória.
Foi com o coração partido que fiz esse texto

Boa Alma (Antonio Luiz Campos)

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