A
roda da República certamente não será a mesma a partir de agora,
infelizmente essa quinta feira começa com o berimbau soluçando de
tristeza pois perdemos o grande mestre Ananias. Seu Ananias estava
internado desde o dia 09/07 de 2016 e Deus com grandeza e sabedoria
decidiu que era chegada do mestre descansar no auge dos seus 92 anos
de idade.
O
mestre Ananias Ferreira nasceu em 1924 na cidade de São Félix no
recôncavo baiano, por coincidência nasceu no mesmo ano o mestre
caiçara, e no ano seguinte nasceu o mestre Traíra Ambos na cidade
de cachoeira que antes da divisão pertencia a São Félix, ainda no
ano seguinte na capital baiana nasceu o mestre canjiquinha que anos
mais tarde tornou-se uma das figuras mais importantes na vida do
grande mestre Ananias.
Mestre
Ananias cresceu nesse ambiente onde as manifestações
afro-brasileira fervem, alí ele conheceu o samba de roda, o
candomblé, e a capoeira que ele honrou até o último suspiro de
vida. A sua infância na capoeira do mestre Juvêncio, no samba do
mestre Inácio do cavaquinho, na roda da tenda do seu Mané da viola,
despertou no menino o enorme desejo de passar para frente a tradição
do seu povo. A sofrida e dura vida de canavieiro, e o dia a dia nas
lavouras de fumo lhe fizeram buscar novos ares e o jovem Ananias
Ferreira assim como a asa branca fugindo da seca, bateu em retirada
para a capital baiana.
A
princípio morou no bairro do Engenho Velho de brotas(onde bimba fez
História), depois se mudou para o bairro do Curuzu, porém quis
destino que o rapaz tivesse um terceiro endereço, foi morar na
liberdade onde conheceu o grande mestre Valdemar. E foi ali na
liberdade, no barracão do corta braço que esse rapaz começou fazer
História na bateria mais afamada da História da capoeira. Muitos
eram os seus companheiros, Nagé, Bugalho, Fumo Fino, Traíra,
Dorival (irmão de Valdemar), Juvenal, Zacarias, Bráulio, Barbosa e
muitos outros sem contar os companheiros de outras rodas que a vida
lhe proporcionou.
Conheceu
e conviveu com os grandes nomes da capoeira baiana, Caiçara,
Pastinha, Bimba e dentre outros o mestre Canjiquinha que muito lhe
ensinou e ajudou, e foi das mãos do mesmo que seu Ananias recebeu o
diploma de mestre. Em 1953 através dos produtores Wilson e Sérgio
Maia o mestre Ananias desembarcou na terra da garoa e o que era para
ser algumas representações teatrais transformou-se na instalação
do mestre na Capital Paulista onde se tornou um dos maiores, senão o
maior percursor da capoeira por aqui. Esse período da História
corresponde ao início da imigração nordestina para o sudeste do
Brasil.
No
fim dos anos 50 até meados dos anos 80 uma grande leva de
capoeiristas baianos desembarcaram em São Paulo, esses periodos
corresponde a transição da capoeira baiana para a maior capital da
América latina, esses capoeiristas são os chamados mestres
pioneiros, entre os muitos que vieram podemos citar; Mestre Suassuna,
mestre Paulo limão, mestre Zé de Freitas, mestre Damião, mestre
Brasília, mestre Bigo, mestre Natanael, mestre Joel e muitos outros
mestres dentre eles o grande mestre Ananias um dos primeiros a chegar
aqui.
Mestre
Ananias participou de muitas peças teatrais na divulgação e
valorização da cultura afro. Junto a Plínio Marcos esteve presente
nas peças Balbina de Iansã e Jesus Homem. Dentre as maiores
contribuições do mestre Ananias está a Roda da República, a mais
famosa roda de capoeira do estado de São Paulo, fundada pelo mesmo
junto aos seus conterrâneos mais de 50 anos atrás e que resiste
até os dias atuais através da liderança do mestre.
A
roda na casa do mestre Ananias é mais que um encontro de capoeirista
em busca do saber é um ponto turístico onde o dono da festa era o
patrimônio vivo da capoeira no estado.
Firmeza
nas palavras, personalidade forte, liderança nata, conhecedor, Ogã
por mérito, sábio, lutador, guerreiro que nunca abaixou a cabeça,
uma personalidade digna da realeza africana, assim era o nosso grande
Mestre Ananias, o patrimônio da História da capoeira de São Paulo.
Muitos
vão ler esse texto e dizer eu estive com ele, eu cantei, eu joguei
na sua roda; porém poucos vão dizer eu me preocupei em conversar
com o mestre e saber um pouco sobre a sua vida, como era o cenário
da capoeira quando desembarcou aqui. Eu posso dizer que sou um desses
poucos.
Descanse
em paz mestre Ananias a capoeira agradece a sua breve passagem aqui
na terra, que Deus o tenha em sua glória.
Foi
com o coração partido que fiz esse texto
Boa
Alma (Antonio Luiz Campos)
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