"Eu
tinha por volta de 5 ou 6 anos treinando e, talvez, estivesse vivendo
o período áureo da minha capoeiragem. Eu achava que não havia
capoeirista que me ganhasse no jogo. A Bahia era linda e o centro do
universo para nós baianos. Negros e brancos se misturavam nas ruas
estreitas e calçadas com paralelepípedos centenários. O traje de
linho branco predominava nos domingos e nas festas de largo. Meu
sapato de duas cores e bico fino era o meu favorito e, a navalha
enferrujada mas afiada, descansava nervosa no bolso da minha calça
de boca larga. Na ausência dos eventos abundantes como existem hoje
em dia, na inexistência da internete que nos governa como o deus da
comunicação e no silêncio da prática sigilosa da capoeira que
funcionava como requisito essencial da malandragem, eu me sentia como
um samurai que havia perdido seu senhor, um “ronin”em busca de
duelos mortais na calada da noite. Viajei a procura dos bambas.
Na
zona norte do Rio encontrei Arthur Emídio na farmácia em que
trabalhava. Ela já havia escutado a meu respeito e fomos juntos para
sua academia. Assisti a aula sentado no banco da pequena sala. A
animação era grande e os capoeiristas voavam em saltos que eu nunca
tinha visto antes. Arthur era um dínamo que pulava, rolava no chão,
batia palmas e mandava um “IÊÊÊ” muito alto e meio de falsete
para parar a música no tempo certo que por muitos anos imitei. Sem
dúvida era um candidato para um grande duelo!
A
aula acabou e Arthur me convidou para entrar na roda. Joguei com dois
alunos deles. Um saiu mancando e o outro dormiu com a ajuda de uma
meia lua de compasso na cabeça. Arthur Emídio me chamou para o pé
do berimbau. Havia chegado a hora do grande duelo. Jogamos durante
muito tempo na maldade que me devorava e me dava ainda mais gana de
jogar. Arthur não vacilou um segundo sequer. Jogou que nem um
azougue o qual não pude tocar. De vez em quando ele dava um salto do
nado tentando atingir minha cabeça mas, só encontrava o vento da
minha sombra. Ele havia entregue o ouro ao bandido quando quiz se
mostrar ou me assustar ao dar uns dois saltos semelhantes num saco de
areia durante a aula. Depois de umas duas horas a luz apagou na rua.
Arthur foi na farmácia em que trabalhava ao lado da academia, pegou
alguns pacotes de vela que acendemos em volta da roda e continuamos o
pega pra capar. La pelas 2 da manhã decidimos parar. Como diz
a cantiga, nem ele venceu nem eu. Para comemorar, fomos tomar uma
geladinha num bar da esquina.
Vá
com Deus, capoeira. Uma hora dessas a gente se encontra de novo para
decidir nossa diferença."
Mestre Acordeon
Tudo bem,bonita historia.So que Mestre Artur Emidiio nunca TRABALHOU nesta farmacia (Farmacia Novo Mundo e o nome na Av.dos Democraticos,1313 no bairro de Higienopolis);ele MORAVA em um quarto nos fundos desta farmacia,que ainda existe e cujo proprietario chama-se Mauro de quem Mestre Artur Emidio foi amigo por longos anos.
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