terça-feira, 20 de junho de 2017

PLANO SETORIAL DE CAPOEIRA, CURITIBA - PR


foto:CAPOEIRANEWS
PLANO MUNICIPAL DE CULTURA DE CURITIBA - PMCC
PLANO SETORIAL DE CAPOEIRA
DIAGNÓSTICO

A capoeira é uma manifestação cultural caracterizada por sua multidimensionalidade - é ao mesmo tempo dança, luta e jogo, portanto enquadra-se num vasto campo da área da cultura. Dessa forma, mantém ligações com práticas de sociedades tradicionais, nas quais não há a separação das habilidades (multidimensionalidade) nas suas celebrações.
No seu processo histórico foi reprimida, proibida, liberada, reconhecida e por fim Registrada como Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil. Dentro deste bojo cultural vale ressaltar sua grande diversidade, descendentes das matrizes, Angola e Regional, fortemente relacionadas a figura dos Mestres Pastinha e Bimba, respectivamente.
Na atualidade, a diversidade é expandida devido aos modos de fazer de cada Mestre de capoeira. A multidimensionalidade e diversidade fazem desta arte um importante instrumento de cultura, educação, inserção social e valorização da cultura afro-brasileira. Hoje, a Capoeira é praticada em mais de 160 países, nos 5 continentes sendo a maior difusora da língua portuguesa. A falta de dados, mapeamentos e diagnósticos sobre a capoeira em Curitiba são sintomas da falta de valorização da mesma como setorial da cultura e importante elemento representativo da cultura popular afro-brasileira na cidade, tornando-se essencial levantamentos e pesquisas sobre capoeira em Curitiba para um diagnóstico mais amplo e específico. Fazendo-se necessária a criação de políticas públicas para ampla difusão e reconhecimento deste bem:
Frente a este contexto, e pensando a capoeira como uma matriz aberta em que a tradição se conjuga à tão propalada liberdade que ela representa, não é possível separar o contexto contemporâneo da capoeira da
trajetória daqueles que, no passado, contribuíram para sua configuração e consolidação no cenário nacional e internacional.”
PORTO, et. al, 2010, p. 95


Ou seja, Mestres e capoeiristas devem ser reconhecidos e valorizados por seus
saberes, como agentes transmissores da cultura brasileira. Em 2000, o decreto nº 3.551 criou a Política de Patrimônio Imaterial no Brasil, com o objetivo de registrar e salvaguardar bens de natureza imaterial em todo território nacional, tornando estados e municípios também responsáveis pelas manifestações, saberes, celebrações e lugares registrados. Com isto em 2008, a Roda de Capoeira e o Ofício de Mestre foram Registrados como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, respectivamente no Livro das Formas de Expressão e dos Saberes, pelo Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 2014, a Roda de Capoeira foi inscrita como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco – Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura. Apesar do reconhecimento institucional nacional e internacional, a Capoeira carece de políticas públicas continuadas para sua salvaguarda, difusão e valorização ampla, com ações e garantias efetivas.
As Rodas de Capoeira em Curitiba ocorrem em dois ambientes: na ‘rua’ - de forma pública - e em ambientes fechados também - aberta a convidados. A roda de ‘rua’, em especial, mantém uma tradição da capoeira, quando havia somente este local, para sua expressão. Na cidade de Curitiba, muitos grupos realizam rodas de ‘rua’ como uma periodicidade e local definidos. Este patrimônio cultural também carece de mapeamento, registro e medidas de salvaguarda.
O Livro “Curitiba entra na Roda: presença(s) e memória(s) da capoeira na capital paranaense” traz alguns aspectos importantes relativos a capoeira na cidade de Curitiba. Ele menciona o processo de transmissão do saber às novas gerações.
Há um reconhecimento identitário das linhagens relativas aos Mestres de
capoeira. A história e o desempenho pessoal na roda de capoeira fazem parte de um processo de legitimação do capoeirista. Estes aspectos fundamentam a avaliação do capoeirista por sua comunidade. Assim, os Mestres de Capoeira, suas memórias, os locais de ensino e os sistemas de ensino-aprendizagem são de fundamental importância para a salvaguarda da capoeira. Identifica -se assim uma dificuldade devido à carência de pesquisas, registros e medidas de salvaguarda.
O livro ainda traz um levantamento dos pontos de prática de capoeira no período entre 17 de abril de 2010 à 30 de julho de 2010. Nesse levantamento, foram apontados 37 grupos de capoeira, 214 pontos de práticas de capoeira dentro das categorias: academia, aldeia indígena, associação de funcionários, associação de
moradores, creche, DCE (Diretório Central dos Estudantes), escola municipal, escola estadual, escola particular, projeto social, salão de condomínio, salão de igreja católica, sede própria, SESC (Serviço Social do Comércio), universidades. O referido livro também registrou apenas a memória de 10 mestres na capoeira de
Curitiba, o que demonstra a dificuldade de registro e atualização de informações sobre os grupos, pontos de prática e dos mestres.
Dentro das análises realizadas na metodologia do livro destacam-se a mudança
dos pontos de prática como também a alteração do público alvo de 1980 e 1990 para atualidade. No passado, os pontos de prática eram concentrados em academias, sendo o público praticante jovens e adultos. Atualmente a dispersão dos pontos de práticas é demonstrada pelo Gráfico 1:(ver final do texto)
Fonte: PORTO, et. al, 2010, p. 20 (ver final do texto)
Segundo o livro há um predomínio das escolas particulares (67 pontos - 31,3%), seguidas das escolas municipais (48 pontos - 22,4%), dos projetos sociais (31 pontos - 14,5%) e das academias (28 pontos - 13,1%). Há 1 ponto em aldeia indígena, 1 ponto em diretório central de estudantes, e 2 em associação de funcionários, creches, universidades e SESCs. Agrupando as categorias, identifica-se que dos 214 pontos, 124 (57,9%) estão em escolas de ensino fundamental e médio, sendo este, o principal espaço de presença da capoeira nesta capital, seguido dos projetos sociais.
Apesar do grande número de pessoas praticantes de capoeira, observa-se que poucos continuam com sua prática. É senso comum dentro da comunidade que isto se deve ao grande número de pontos de práticas em escolas e em locais onde se desenvolvem projetos sociais. Isto limita a faixa etária dos praticantes e consequentemente a continuidade como praticante de capoeira.
Os capoeiristas trabalham como autônomos, sem a garantia de direitos
trabalhistas, fazendo muitos obrigarem-se a ter outras ocupações e deixar a prática, o que compromete a transmissão de saberes e difusão da capoeira. A formação e atualização do capoeirista, enquanto agente cultural, acontece no dia a dia em todos os espaços que a capoeira é praticada e em eventos de Capoeira através de trocas de experiências e vivências, baseados em aprendizado oral e corporal, formas de transmissão de saberes não valorizadas e reconhecidas oficialmente. Diante de tais fatos, os eventos de capoeira são importantes lugares de aquisição e intercâmbio de conhecimento, saberes tradicionais e formação cultural, para tanto precisam ser apoiados e fomentados pelo poder público. As dificuldades para a realização dos eventos, residem nos custos elevados dos intercâmbios intermunicipais a até intercontinentais, já que muitos mestres vem de outras regiões e países para ministrar cursos e oficinas. Outra dificuldade, para formação continuada dos capoeiristas é a demanda financeira necessária para a mesma.
TEMAS, DIRETRIZES E AÇÕES
Capoeira e Salvaguarda
Diretrizes
1. Garantir o Registro da Capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial do
Município de Curitiba e a salvaguarda de todos os saberes e fazeres
relativos a capoeira e suas manifestações associadas (como o Maculelê , o
Frevo, o Jongo, a Puxada de Rede, o Samba de Roda, tambor de criola,
dança afro, confecção de instrumentos e outros) no âmbito municipal,
visando produzir um sistema permanente com atualização contínua para
subsidiar o planejamento e a tomada de decisões referentes às políticas
públicas para a Capoeira em Curitiba.
2. Criar e manter uma estrutura municipal de suporte para capoeira, com gestão compartilhada entre o poder público e sociedade civil, sempre ouvindo o Setorial da Capoeira, como também uma formação continuada aos capoeiristas em temas pertinentes, visando o reconhecimento e certificação das manifestações da capoeira e de seus Mestres para a salvaguarda da Capoeira de Curitiba.
Ações
A. Viabilizar um centro cultural de Capoeira de Curitiba, com gestão
compartilhada, contendo espaços relativos à: memorial da Capoeira de
Curitiba, casa da leitura da Capoeira de Curitiba, auditório da Capoeira de
Curitiba, salão de eventos da Capoeira de Curitiba, espaço para
acomodação de capoeiristas visitantes e estúdio de comunicação. Visando
concretizar projetos em andamento a pedido da comunidade da capoeira
B. Garantir o registro e a salvaguarda de todo patrimônio cultural relativo a capoeira, como as Rodas de Capoeira e os Mestres de Capoeira e ainda locais de ensino e prática, metodologias de ensino.
C. Apoiar e fomentar a abertura dos centros culturais para a capoeira na cidade vinculando-os a Política Nacional de Cultura viva.
D. Construir uma marcação e sinalização dos locais de realização das rodas
de rua na cidade, demarcando os locais em que são realizadas as rodas de
capoeira de cada grupo nos espaços públicos de Curitiba. Associada ao
registro da memória e mapeamento destas, e também a qualificação das calçadas para a prática da capoeira.
E. Garantir o mapeamento de forma integrada ao Sistema Nacional de
Informações e Indicadores Culturais (SNIIC) e considerando os esforços da
União e do Estado.
F. Promover e fomentar o registro e divulgação das memórias dos Mestres e
da Capoeira em Curitiba, por meio de publicações impressas, audiovisuais
e outras manifestações artísticas.
G. Estimular a identificação e delineamento do perfil dos Mestres de Capoeira,
inclusive organizando as bases para o reconhecimento dos mestres por
seus notórios saberes e, quando for o caso, como Doutores Honoris Causa.
H. Estimular as instituições de Educação Superior para incluir estudos de capoeira em seus currículos regulares e oferta de cursos profissionalizantes
e pós-graduação em capoeira, criar centros de documentações e pesquisa
e também reconhecer os notórios saberes dos mestres e quando for o caso,
para o reconhecimento e outorga de Honoris Causa.
Capoeira e Educação
Diretrizes
3. Fortalecer a transmissão dos saberes e práticas da capoeira de Curitiba entre as diferentes gerações, considerando a diversidade de mestres e grupos da cidade.
4. Apoiar e fomentar ações socioeducativas desenvolvidas por indivíduos,
coletivos culturais, instituições culturais sem fins lucrativos, entidades
ligadas a Prefeitura Municipal de Curitiba cujo foco seja o conhecimento, o
reconhecimento, a prática e a difusão da capoeira.
Ações
I. Elaborar edital próprio anual visando aulas de capoeira nos espaços da
PMC (Prefeitura Municipal de Curitiba), como escola CEIs (Centro de
Educação Integral), CMEIs (Centro Municipal de Educação Infantil) e
escolas especiais e regulares, CRAS (Centro de Referência da Assistente
Social), portal do futuro, rua da cidadania e outros, pelos Mestres de
Capoeira, e capoeiristas com sua declaração (termo de anuência) anexo ao
edital que deverá ser criado mediante consulta do Setorial de Capoeira.
J. Elaborar em conjunto com a educação projetos específicos para a
educação infantil, melhor idade e necessidades especiais.
K. Fomentar ações por meio de projetos itinerantes dentro dos espaços
educacionais.
L. Elaborar de forma interdisciplinar formação continuada para os
trabalhadores em educação e outros, utilizando o conhecimento e mão de
obra da comunidade da capoeira em cumprimento da lei 10639/03.

M. Criar projetos de formação continuada para a comunidade da capoeira utilizando recursos do PROMFAC (Programa Municipal de Formação na Área de Cultura).
N. Parceria com a Rede Municipal de Educação para incluir a capoeira como
conteúdo escolar de história e cultura e como atividade em espaço escolar.
O. Estimular o conveniamento para inclusão de atividades de capoeira em espaços extendidos e extra curricular nos formatos das mais educações.
Capoeira, Diversidade e Acesso
Diretrizes
5. Simplificar os mecanismos de apoio e fomento à Capoeira, permitindo a
participação direta dos Mestres e grupos, coletivos culturais, incorporando
instrumentos adequados.
6. Capacitar e formar os indivíduos (capoeiristas), grupos, comunidades e
Mestres de Capoeira para a formulação e administração de projetos
culturais.
7. Garantir que os espaços públicos sejam abertos à capoeira.
Ações
P. Incluir categoria específica de Capoeira nos editais da Fundação Cultural de
Curitiba e nos sistemas de fomento.
Q. Promover a constituição de uma rede Cultural relativa à Capoeira na cidade
de Curitiba, articulada com o Politica Nacional de Cultura Viva.
R. Promover, apoiar e fomentar as ações relativas a intercâmbio Cultural da
Capoeira dentro de Curitiba, como também com outras localidades.
Do Estado
Diretrizes
8. Investir na qualificação na área cultural, visando a Capoeira, mediante a capacitação e especialização dos gestores públicos da cidade de Curitiba.
9. Ampliar a visibilidade das expressões e manifestações da Capoeira na
sociedade, como instrumentos apropriados para a projeção e valorização de
nossa diversidade cultural, dentro e fora da cidade.
Ações
S. Nomear um gestor no quadro da Fundação Cultural de Curitiba para tratar
assuntos referentes e com conhecimento da Capoeira em Curitiba.
T. Incluir as atividades de Capoeira, como rodas de capoeira, oficinas e
eventos, no calendário e das festividades da Fundação Cultural de Curitiba.
U. Incluir atividades de Capoeira nos equipamentos da Fundação Cultural de
Curitiba.
V. Incluir o “23 de Novembro” dia municipal da capoeira nos calendários de festividades de Curitiba do “Vinte de Novembro”.
W. Incluir a Semana da Capoeira (vinte de setembro) nos calendários de
festividades de Curitiba

X. Garantir a divulgação dos eventos de capoeira pela FCC em todos os espaços públicos e transporte coletivo, inclusive criar coluna para capoeira
em todos os instrumentos de comunicação da FCC, incluindo revista,
página de internet, redes sociais, entre outras.
Y. Incluir a agenda dos espaços de roda de capoeira nas informações
turísticas de Curitiba
Z. Criar um calendário anual dos eventos dos Grupos de Capoeira de Curitiba
e garantir sua divulgação.
AA. Elaboração de um Plano de Ação bianual, incluindo metas.
Sustentabilidade
Diretrizes
10. Promover condições para o desenvolvimento da produção, circulação e fruição da Capoeira, respeitando os modos próprios de expressão e
organização de seus praticantes.
11. Estabelecer a intersetorialidade das políticas públicas, por meio da
articulação de responsabilidades e informações de diversos órgãos
públicos.
Ações
BB. Estabelecer parceria com a Secretaria Municipal de Educação, visando a inclusão da Capoeira como atividade extra curricular permanente nas
escolas regulares, especiais, CEI (Centro de Educação Integral), CMEI
(Centro Municipal de Educação Infantil) por meio de projetos culturais.
CC. Estabelecer parceria com a Fundação de Ação Social, visando a inclusão
da Capoeira como atividade permanente nos equipamentos deste órgão,
por meio de projetos culturais.
DD. Incluir no Anexo IV da Lei complementar 40/2001 (Tabela de autônomos
Isentos de ISS) como profissionais: Mestre de Capoeira, Contramestre de
Capoeira, Professor de Capoeira, Instrutor de Capoeira, Treinel de
Capoeira, e capoeiristas com declaração (termo de anuência) do Mestre de
Capoeira.
EE. Articulação com o Legislativo Municipal para a criação de Projeto de Lei municipal que torne obrigatório aulas de Capoeira nas escolas, CMEIS e outros espaços educacionais.
FF. Apoiar, fomentar e oferecer apoio institucional para eventos de capoeira realizados em Curitiba.

GG. Pelo fim da precarizações e informalizações do trabalho dos capoeiristas profissionais pela organizações de cooperativas de trabalhos e o estímulo a geração de trabalho e renda no formato de economia da cultura. 

Fonte: PORTO, et. al, 2010, p. 20

http://www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br (PMCC_plano setorial de capoeira)

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