sábado, 6 de junho de 2015

CAPOEIRA DANÇA-LUTA À BRASILEIRA (parte I)


Os escravos fugitivos, mesmo franzinos, enfrentavam com vantagem seus perseguidores: um negro sozinho lutava com vários brancos, valendo-se da agilidade de uma coisa difícil de definir mistura de manha, malícia, inteligência, reflexos condicionados. Disfarçando-a em dança acrobática, os negros conseguiram pratica-la e desenvolve-la diante de seus próprios senhores, que se divertiam com as chulas dos berimbaus e das palhaçadas dos sorridentes contendores. Proíbida durante muito tempo, a capoeira sobreviveu na Bahia e hoje, ensinada em academias ou universidades, começa a firmar-se como o mais fascinante dos esportes: o único genuinamente brasileiro.



No início não adiantava fugir. O escravo que tentasse era logo apanhado por homens treinados especialmente para caçá-los: os capitães-do-mato. Subnutridos e cansados, os negros não tinham condições de medir força com aqueles homens. Os fugitivos eram torturados até quase à morte, mas, depois de recuperados, quando surgia a oportunidade, fugiam novamente.




Esse amor à liberdade fez com que o negro aperfeiçoasse uma espécie de luta e ou de dança que já praticava na África. Consistia em não oferecer resistência aos golpes do adversário, esquivando-se sempre, mas de modo a ficar perto para contra-atacar. A força era secundária e o que contava era a agilidade e a malícia. Quando o capitão-do-mato atacava, o negro tirava o corpo e deixava a mão ou o pé: estava nascendo a capoeira.

ORIGEM
Não se pode precisar a época em que a capoeira começou a ser praticada. A maioria dos documentos sobre a escravidão foi queimada em praça pública por Rui Barbosa, então Ministro do Governo Deodoro da Fonseca, visando apagar da História do Brasil, a “mancha negra da escravidão”. Sabe-se que os escravos bantos de Angola trouxeram para o Brasil uma dança guerreira, ou um jogo atlético, defensivo e agressivo. As circunstâncias obrigaram o negro a desenvolver esse jogo, que se tornou uma das mais eficientes lutas.
Capoeira é um mato fechado e miúdo, onde os negros fugitivos se escondiam e aplicavam os primeiros golpes nos seus perseguidores. Também escondidos nas capoeiras, os negros treinavam e aperfeiçoavam sua luta. Quando capturados ensinavam nas senzalas ou nas prisões aos outros escravos os novos golpes aprendidos quando em liberdade.
Noa quilombos os negros já praticava a capoeira, e de uma forma bastante evoluída. A História registra que os escravos, mesmo franzinos, enfrentavam com vantagem os perseguidores. Um negro sozinho lutava com vários brancos, valendo-se da agilidade e de uma coisa difícil de definir – mistura de manha, malícia, inteligência, reflexos condicionados.

AGILIDADE CONTRA A FORÇA
A capoeira deu mostra de sua força quando os primeiros capitães-do-mato, ou do campo, passaram a voltar de suas caçadas de mãos vazias, ou mesmo a não voltar. O negro começava a oferecer resistência e estava desenvolvendo uma luta muito eficaz.
“Capitão -do-campo
Veja que o mundo virou
Foi ao mato pegar negro
Mas o negro lhe amarrou”

Com os contínuos fracassos dos capitães-do-mato, a capoeira começou a sofrer suas primeiras perseguições. A solução foi dançar novamente. Batendo palmas quando não havia berimbaus ou atabaque, o negro fazia marcação daquela dança acrobática e ia treinando seus músculos e aguçando seus reflexos. Quando os guardas se aproximavam a música tornava-se mais lenta, assim como os movimentos. Os guardas achavam graça e deixavam os negros com suas brincadeiras inofensivas, e a dança -luta continuava.
A música, que em capoeira chama-se chula, não servia apenas para disfarçar a luta: dava ritmo ao jogo, e suas letras reivindicavam a liberdade, lamentavam os maus tratos dos feitores e narravam o desenrolar do jogo.
E assim que a capoeira conseguiu sobreviver à época da escravidão, com as rodas alegres, ao som do berimbau e das palmas. O feitor achava bonito, os negros brincando de Angola, batia palmas também e os jogadores continuavam. Jogavam-se no chão, olhavam-se de cabeça para baixo, riam e dançavam uma dança esquisita, de gingados e pulos, ou rolavam no chão como cobras. Trocavam as pernas pelos braços ou ameaçavam os companheiros com a cabeça sempre sorrindo, brincando e inventando gestos.
JB15 de dezembro de 1970. Cesarion C. Praxedes


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