POPULARIDADE
Com o fim da escravidão, a capoeira ficou popular. Mas o negro, apesar de livre, continuava marginalizado, e sua luta não deixou de contribuir para que ele alcançasse seus objetivos. Discriminado pela sociedade, passou a fazer uso da capoeira para assaltar ou para lutar contra a polícia.
Nos
fins do século XIX, os capoeiristas dominavam no Rio de Janeiro,
Salvador, Santos e Recife. Formavam maltas de 20 a 100 homens, que à
frente dos préstitos carnavalescos ou nas festas cívicas provocavam
arruaças, esbordoando e ferindo muita gente.
Principalmente
no Rio e em Recife, a capoeira virou jogo de rua, arma de malandro,
com uma nomenclatura especial para os golpes. Houve cabeçadas que
criaram fama. As mãos funcionavam em certos golpes, como no balão,
que atiravam o inimigo por cima dos ombros ou da cabeça. Há
histórias de capoeiristas invencíveis, que apareciam nas festas e
acabavam com elas, aumentando seu prestígio e do grupo.
A
capoeira teve destaque na Guerra do Paraguai.
Alguns infantes e
soldados eram conhecidos capoeiristas, que tiveram atuação
destacada, sendo, inclusive, condecorados como heróis, por seus
inúmeros atos de bravura nas lutas corpo-a-corpo.
Na
Bahia além dos capoeiristas arruaceiros, haviam aqueles que se
exercitavam ao ritmo das chulas. Exercitavam-se amigavelmente ao som
do berimbaus, ganzás, pandeiros e atabaques, que marcavam o ritmo
do jogo, como seus antepassados, no tempo da escravidão. Não há
notícias de capoeira sincronizada com a música no Rio de Janeiro,
Recife, São Paulo ou Santos.
ARMA
POLÍTICA
No fim
do Império, a capoeira tomou uma forma de luta de terrorismo urbano.
Os políticos usavam os capoeiristas como elemento de intimidação
aos inimigos. Também sob o regime republicano, os políticos usaram
os capoeiristas. O chefe de polícia do Rio, Sampaio Ferraz, nos
primeiros anos da República, enfrentou a capoeiragem numa guerra de
morte.
A luta
durou todo ano de 1890, e Sampaio Ferraz prendeu capoeiristas ricos e
pobres, brancos e pretos, filhos de quitandeiros, e de almirantes,
acabando com a instituição temível na época. A perseguição aos
capoeiristas se fez também em São Paulo, Santos, Recife e Salvador.
A capoeira foi praticamente extinta em quase todo país, exceto na
Bahia, onde a prática era acompanhada das chulas.
O
Código Penal de 1890 não a ignorou. A lei refletia a preocupação
que a capoeira causava, e seu artigo 402 proibia: “Fazer nas ruas e
praças públicas, exercício de agilidade e destreza corporal,
conhecidos pela denominação de capoeiragem; andar em correrias,
provocando tumultos ou desordens, ameaçando cert ou incertamente, ou
incutindo temor de algum modo. Pena: prisão celular de dois a seis
meses.
Parágrafo
único – É considerada circunstância agravante pertencer o
capoeirista a algumas bandas, ou maltas. Aos chefes ou cabeças se
imporá a pena em dobro.
Assim a
única luta nacional estava condenada ao desaparecimento. Mas o
disfarce para esconder a capoeira na época da escravidão continuava
na Bahia, para que a luta pudesse sobreviver. Ao som das chulas, as
rodas de capoeira continuavam a ser realizadas, muitas vezes em praça
pública, o que provocava, imediatamente, a intervenção da polícia.
Para avisar os lutadores da aproximação da polícia, foi criado,
inclusive um novo toque no berimbau – a cavalaria – que imita o
tropel dos cavalos.
O FIM
DA VADIAGEM
Capoeira
passou a ser sinônimo de malandragem. Ainda hoje os dicionários
regitra
m a
capoeira como uma luta de malandros, de velhacos, que usam facas e
navalhas. Mesmo na Bahia, onde a luta sobreviveu mais como folclore,
principalmente entre os negros, a imagem negativa permaneceu. O
baiano quando ia para roda de capoeira, dizia que ia para a
“vadiagem”. Estar vadiando ou jogando capoeira era a mesma coisa.
Em
1932, o capoeirista Bimba resolveu abrir uma academia de capoeira em
Salvador e passou a ensinar a luta para estudantes. Assim a luta mais
uma vez, voltou a ser praticada por outras classes sociais e sua
popularidade novamente cresceu. Em 1937, Bimba recebeu um chamado
para comparecer ao Palácio do Governo. Pensou que ia ser preso e
chegou a prevenir seus alunos. Mas, no Palácio, recebeu um convite
para fazer uma exibição para altos funcionários do Governo.
Naquele
mesmo ano, Bimba conseguiu registra sua academia na Secretária de
Educação, Saúde e Assistência Social, com o nome de Centro de
Cultura Física e Regional. A capoeira iniciava uma nova faze. Outras
academias foram abertas, e algumas passaram a ser pontos turísticos
obrigatórios.
Aos
poucos, a capoeira começou a ressurgir também no Rio e em São
Paulo. Várias academias foram criadas, também em Belo Horizonte,
Brasília e em outras cidades. Só na Guanabara, já existem cerca de
trinta.
JB – 15 de dezembro de 1970. Cesarion C. Praxedes
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