terça-feira, 30 de junho de 2015

CAPOEIRA DANÇA-LUTA À BRASILEIRA (parte II)


                                          POPULARIDADE


Com o fim da escravidão, a capoeira ficou popular. Mas o negro, apesar de livre, continuava marginalizado, e sua luta não deixou de contribuir para que ele alcançasse seus objetivos. Discriminado pela sociedade, passou a fazer uso da capoeira para assaltar ou para lutar contra a polícia.
Nos fins do século XIX, os capoeiristas dominavam no Rio de Janeiro, Salvador, Santos e Recife. Formavam maltas de 20 a 100 homens, que à frente dos préstitos carnavalescos ou nas festas cívicas provocavam arruaças, esbordoando e ferindo muita gente.
Principalmente no Rio e em Recife, a capoeira virou jogo de rua, arma de malandro, com uma nomenclatura especial para os golpes. Houve cabeçadas que criaram fama. As mãos funcionavam em certos golpes, como no balão, que atiravam o inimigo por cima dos ombros ou da cabeça. Há histórias de capoeiristas invencíveis, que apareciam nas festas e acabavam com elas, aumentando seu prestígio e do grupo.

A capoeira teve destaque na Guerra do Paraguai. 
Alguns infantes e soldados eram conhecidos capoeiristas, que tiveram atuação destacada, sendo, inclusive, condecorados como heróis, por seus inúmeros atos de bravura nas lutas corpo-a-corpo.

Na Bahia além dos capoeiristas arruaceiros, haviam aqueles que se exercitavam ao ritmo das chulas. Exercitavam-se amigavelmente ao som do berimbaus, ganzás, pandeiros e atabaques, que marcavam o ritmo do jogo, como seus antepassados, no tempo da escravidão. Não há notícias de capoeira sincronizada com a música no Rio de Janeiro, Recife, São Paulo ou Santos.

ARMA POLÍTICA
No fim do Império, a capoeira tomou uma forma de luta de terrorismo urbano. Os políticos usavam os capoeiristas como elemento de intimidação aos inimigos. Também sob o regime republicano, os políticos usaram os capoeiristas. O chefe de polícia do Rio, Sampaio Ferraz, nos primeiros anos da República, enfrentou a capoeiragem numa guerra de morte.
A luta durou todo ano de 1890, e Sampaio Ferraz prendeu capoeiristas ricos e pobres, brancos e pretos, filhos de quitandeiros, e de almirantes, acabando com a instituição temível na época. A perseguição aos capoeiristas se fez também em São Paulo, Santos, Recife e Salvador. A capoeira foi praticamente extinta em quase todo país, exceto na Bahia, onde a prática era acompanhada das chulas.
O Código Penal de 1890 não a ignorou. A lei refletia a preocupação que a capoeira causava, e seu artigo 402 proibia: “Fazer nas ruas e praças públicas, exercício de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela denominação de capoeiragem; andar em correrias, provocando tumultos ou desordens, ameaçando cert ou incertamente, ou incutindo temor de algum modo. Pena: prisão celular de dois a seis meses.
Parágrafo único – É considerada circunstância agravante pertencer o capoeirista a algumas bandas, ou maltas. Aos chefes ou cabeças se imporá a pena em dobro.
Assim a única luta nacional estava condenada ao desaparecimento. Mas o disfarce para esconder a capoeira na época da escravidão continuava na Bahia, para que a luta pudesse sobreviver. Ao som das chulas, as rodas de capoeira continuavam a ser realizadas, muitas vezes em praça pública, o que provocava, imediatamente, a intervenção da polícia. Para avisar os lutadores da aproximação da polícia, foi criado, inclusive um novo toque no berimbau – a cavalaria – que imita o tropel dos cavalos.

O FIM DA VADIAGEM
Capoeira passou a ser sinônimo de malandragem. Ainda hoje os dicionários regitra
m a capoeira como uma luta de malandros, de velhacos, que usam facas e navalhas. Mesmo na Bahia, onde a luta sobreviveu mais como folclore, principalmente entre os negros, a imagem negativa permaneceu. O baiano quando ia para roda de capoeira, dizia que ia para a “vadiagem”. Estar vadiando ou jogando capoeira era a mesma coisa.
Em 1932, o capoeirista Bimba resolveu abrir uma academia de capoeira em Salvador e passou a ensinar a luta para estudantes. Assim a luta mais uma vez, voltou a ser praticada por outras classes sociais e sua popularidade novamente cresceu. Em 1937, Bimba recebeu um chamado para comparecer ao Palácio do Governo. Pensou que ia ser preso e chegou a prevenir seus alunos. Mas, no Palácio, recebeu um convite para fazer uma exibição para altos funcionários do Governo.
Naquele mesmo ano, Bimba conseguiu registra sua academia na Secretária de Educação, Saúde e Assistência Social, com o nome de Centro de Cultura Física e Regional. A capoeira iniciava uma nova faze. Outras academias foram abertas, e algumas passaram a ser pontos turísticos obrigatórios.
Aos poucos, a capoeira começou a ressurgir também no Rio e em São Paulo. Várias academias foram criadas, também em Belo Horizonte, Brasília e em outras cidades. Só na Guanabara, já existem cerca de trinta.
JB – 15 de dezembro de 1970. Cesarion C. Praxedes
                                                                                          

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